Deixei Lisboa, mais tarde, e regressei a casa, à aldeia. Ainda não tinha visto o Alentejo com este ambiente outonal acabadinho de chegar. Sente-se o ar mais fresco aqui do que em Lisboa, senti a casa agradavelmente fria. Lá fora, havia nuvens escuras e um arco-íris de um lado, e um céu clarinho salpicado de nuvens mais claras, com o sol bem forte e laranja, do outro. Os sobreiros, já sem cortiça, estão com uma cor tijolo-aveludado, bastante viva quando lhes bate a luz do sol poente.
Cheguei, e fui recebida pelos saltos e lambidelas do Pumba (um dos meus cães), e o meu pai apresentou-me o novo amigo do Alex (outro dos meus cães) - um gatinho que apareceu por aqui e gosta de lhe fazer companhia. Enquanto brincávamos com os nossos amigos de quatro patas, reparei que a romãzeira está carregadinha de romãs, enormes e com uma cor bem viva. Esta árvore sempre me trouxe boas recordações; era a que eu mais gostava de trepar quando era criança... Então, eu e o meu pai resolvemos apanhar e provar as romãs (que estavam uma delícia!), e até enchemos um saco com elas, que fomos oferecer aos vizinhos - uma das maravilhas que só é possível viver numa aldeia. E foi aqui que fiquei a conhecer mais um amigo novo, pois a minha vizinha tem um micro-cãozinho felpudo que é a coisa mais amorosa que eu já vi.
Quando regressei a casa, descobri uma delícia à minha espera - um cremoso pastel de nata! E depois de o saborear, aproveitei os momentos seguintes para cantar, pois aqui na aldeia tenho liberdade para fazer barulho em casa, a qualquer hora, a qualquer volume. A certa altura, a minha irmã chamou-me para vermos umas roupas antigas, e descobri uma saia lindíssima que nem me lembrava que tinha, rodada e até aos pés, com faixas horizontais largas, de diversas cores que remetem para a terra e para as árvores; vesti-a, fiz da sala uma clareira, e fui dançar com ela, à luz fraca de um candeeiro, com a sombra projectava da parede, até me cansar. O dia terminou ao som da chuva, num agradável serão em família.
E termina assim o meu relato simples, quase pueril, deste que foi o meu primeiro dia de Outono - não o primeiro dia de Outono que o calendário marca, mas o primeiro dia em que realmente senti o Outono na rua, no ar, nas cores... Um dia passado em família, nesta paz que só o campo nos pode dar. Que memórias felizes vou guardar deste dia. :)
Nota: Este dia foi registado há 15 dias atrás, embora só agora o tenha transferido para o blog.
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A arte
Imagem: Dance of the Graces, by Selina Fenech.
Música: The Dance Begins e Songs for the Shadows, de Weapon, um projecto de um amigo e a música perfeita para ouvir no Outono.
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